Não há dúvidas de que “o mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Será mesmo? Tem sido conveniente também afirmar e se aproveitar deste confuso estado das coisas.
Virou uma doença mundial a dissimulação, a omissão ou a mentira. O surpreendente é perceber que o uso de qualquer uma destas práticas é desnecessário e gratuito. As pessoas se enrolam porque querem. Parece engraçado a política do enganar, ainda que não se tire vantagem.
A epidemia atinge toda a cadeia de relacionamento e amigos se veem alimentando um procedimento perverso e inconsequente. O grande barato disso tudo – se assim pudermos classificar – é a imagem que se tenta impor ou apresentar, mesmo quando fica nítido o contraste entre o discurso e o exemplo.
Dizem que conselho, se fosse bom, a gente venderia. E, confesso, deveria ser caro. Durante todo o tempo as pessoas se influenciam e terceirizam decisões próprias ou faltam sistematicamente com o respeito em dar ao interlocutor uma simples resposta, um sonoro não, e de uma forma naturalmente gentil.
Assim, teríamos a verdade restabelecida, o bom senso cultivado e ninguém precisaria tentar entender ou deduzir uma fuga ao telefone que toca insistentemente, um email “órfão” que vaga pelo universo virtual, uma lacônica linha de mensagem de texto.
Claro que não é fácil dizer ou ouvir um não. No entanto, quando bem dado, é tão honesto e imprescindível. Por que tanta volta, se quando finalmente se pronuncia, acaba soando como alto e agressivo? Por que tanto subterfúgio, se o cinismo já tomou conta da situação? Por que tanto protocolo, se quando ganhar tempo é a prioridade?
Voluntariamente ou não, as pessoas se acostumaram a dar volta umas nas outras. Até o fim, terão esta filosofia de vida. Empurrar com a barriga também é uma forma de dar volta até vencer pelo cansaço na esperança do esquecimento alheio. É a pior parte da indiferença. “Pior que o ódio do inimigo é a indiferença do amigo”.
Não é o fim do mundo. É apenas o fim da volta. A volta do fim.
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