O que chamou atenção na votação da Proposta de Emenda à Constituição, com o objetivo de diminuir os poderes do Supremo Tribunal Federal, instância máxima da Justiça brasileira, foi o voto do senador Jaques Wagner (PT).
O ex-governador da Bahia, por dois mandatos, é o líder do governo Lula 3 no Senado da República, portanto homem de confiança do chefe do Palácio do Planalto. Lula e Wagner sempre tiverem um bom e civilizado relacionamento político. São companheiros de priscas eras.
O voto do "rebelde" senador, comemorado efusivamente pelo bolsonarismo, principalmente o raiz, que continua acreditando que o ex-presidente é mesmo um "mito", provocou um rebuliço no governo.
Vale lembrar que Wagner, depois de liberar a base aliada para votar na PEC de acordo com a consciência de cada senador, foi o único petista que votou pela aprovação da polêmica e, até certo ponto, corajosa proposta.
Gleisi Hoffamann, dirigente-mor nacional do PT, não ficou nada satisfeita com o voto do líder do governo na Câmara Alta. Disse que foi um "erro" e fará de tudo para barrar a aprovação na Câmara dos Deputados. Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, cria política de Wagner, declarou que foi um voto "pessoal", deixando nas entrelinhas o "quem pariu Matheus que balance".
A reação imediata do mandatário-mor do país, que pretende disputar à re-reeleição, foi convidar alguns ministros do STF para tentar apagar o fogo provocado pelo voto de Wagner. Presentes no Alvorada, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin, além de Flávio Dino, ministro da Justiça, e Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União. Lula já tinha tido um encontro, a sós, no mesmo dia, na quinta-feira, 23, com Luís Roberto Barroso, presidente do STF.
O intrigante desse bafafá ficou por conta da declaração de Lula de que "não sabia do voto de Wagner". E mais : que desconhecia o teor e a repercussão do texto, conforme matéria da Folha de São Paulo.
Ficou muito estranho o presidente da República dizer que "não sabia" da posição do líder do governo no Senado na votação da PEC anti-STF, o que termina levando a conclusão de que Wagner não anda conversando com Lula, o que é muito ruim para um governo que enfrenta uma avalanche de problemas.
Francamente, como diria o saudoso e inesquecível Leonel de Moura Brizola, fundador do PDT, é difícil acreditar que o presidente Lula não tinha conhecimento do voto de Wagner.
Se Wagner foi desobediente, dando um chega pra lá no líder-mor do Partido dos Trabalhadores, não tem outro caminho que não seja o de pedir seu afastamento como líder do governo no Senado.
Com efeito, membros do STF já pedem a destituição de Wagner. A reação mais dura partiu de Gilmar Mendes : "Essa Casa não é composta por covardes nem medrosos", obviamente se referindo a Alta Corte do Poder Judiciário.
As labaredas provocadas pelo "rebelde" voto de Wagner só vão diminuir com o recuo do senador, passando a ser contra a PEC que enfraquece o STF.
Prefiro apostar que Wagner vai manter sua decisão, não vai se dizer arrependido, sob pena da emenda sair pior que o soneto, como diz a sabedoria popular.
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