Caro leitor, faz tempo que não nos falamos. Eu, por meu turno, confesso que estava ardendo de saudade, mas o tempo — pai dos encontros e mãe do porvir — tem sido pouco generoso comigo. Andou me castigando com sua escassez. Sendo majestade, o tempo não se submete; ao contrário, a tudo subjuga. Daí minha saudade ter precisado curvar-se ao tempo-rei, que só agora nos permitiu o reencontro.
E, falando do tempo, em Ilhéus — apelidada pelo cancioneiro popular de “Princesinha do Sul” — ele tende a deixar de ser generoso com o prefeito Valderico. Imagino que apoiadores e cidadãos mais pacientes possam discordar dessa colocação, mas o fato é que os problemas da gestão municipal parecem ter mudado apenas de coloração, já que, em essência — resguardadas soluções localizadas aqui e acolá — tudo continua como antes. E olhe que estou na torcida pelo acerto!
Sim, é verdade que o prefeito pegou um barril. A gestão Marão deixou a cidade às traças. Todos os serviços públicos de responsabilidade do município estavam disfuncionais, apesar de a propaganda institucional ter alardeado o contrário. Mas passado é passado! E outra: quem ganhou a eleição se apresentou ao eleitorado como portador da competência e da força de trabalho necessárias à resolução dos problemas da gestão municipal.
Há quem diga que, à semelhança do que ACM Neto fez com Salvador, Valderico, “o prefeito influencer”, tende a tornar Ilhéus uma cidade bonita na orla e precarizada longe dos holofotes. E veja, caro leitor: essa metáfora, longe de ser um sarcasmo, representa o quanto ando preocupado com a manutenção dos velhos problemas que interditam a dignidade de parte da população ilheense que vive fora da orla e de seus meios-fios impecavelmente pintados.
E quem poderia se opor a esse estado de coisas tem optado pela passividade conveniente. Refiro-me aqui ao Poder Legislativo Municipal. Nossos vereadores, quase todos alinhados ao governo, se divorciaram — assim que a eleição acabou — de suas funções constitucionais, quais sejam: fiscalizar o Poder Executivo e legislar em favor dos anseios da população. É verdade que há exceções que, em função da matemática legislativa, até fazem barulho; porém, fazer valer suas opiniões é outra coisa.
A imprensa local tem sido cooptada da forma mais sórdida possível. Aliás, Valderico foi eleito cometendo crimes reiterados contra sua principal adversária, usando uma concessão pública. A rádio Gabriela lhe pertence, mas as ondas radiofônicas que utiliza pertencem ao Estado brasileiro e, para utilizá-las em concessão, é preciso respeitar regras — que, todavia, ele continua transgredindo com um jornalismo sordidamente tendencioso. Mas, como dizem: há gosto pra tudo.
E vou parando por aqui. Hoje é sexta-feira, dia de Oxalá, orixá da paz, e, por isso, questões que provocam a indignação — ou que têm o potencial de liberar sentimentos humanamente reprováveis — devem ser tratadas com maior ponderação. É assim que nós, povos de terreiro, praticantes das religiões de matriz africana, devemos nos comportar no dia em que Oxalá nos lembra que há tempo pra tudo.
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