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Sabado, 24 de Maio de 2025
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Distribuir peixes não tem nada de renovador — é um retorno ao século passado.

Coluna Gerson Marques

Gerson Marques
Por Gerson Marques
Distribuir peixes não tem nada de renovador — é um retorno ao século passado.
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Na Ilhéus do século XX, cenas humilhantes se repetiam: filas intermináveis de pessoas pobres submetidas a gestos supostamente benevolentes, como a doação de peixes durante a Semana Santa. Era a “caridade” espetacularizada e politizada, que transformava a dignidade alheia em moeda de troca para reforçar a imagem de um pretenso benfeitor.

Que ironia: aquele que doava um peixe por ano autoproclamava-se salvador, enquanto perpetuava a lógica da submissão. Nas ciências sociais e na literatura política, esse teatro tem nome: populismo — neste caso, um populismo dos mais baratos e vulgares, incapaz de gerar transformações reais ou consequências duradouras na vida das pessoas carentes.

Felizmente, este século trouxe avanços. A substituição dessa prática assistencialista — análoga à esmola — por políticas públicas estruturadas, como o Bolsa Família, o Vale-Gás, o Pé-de-Meia e programas municipais de segurança alimentar, demonstrou que é possível combater a pobreza com método, e não com paternalismo. São iniciativas que dignificam, inserem e garantem direitos, em vez de reduzir cidadãos a meros figurantes em campanhas de marketing político.

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Caro Valderico, o jovem mais velho que conheço, apresento-lhe uma proposta simples, porém revolucionária: por que não converter os recursos gastos em ações assistencialistas como essa em investimentos na agricultura familiar? Em vez de distribuir peixes e frangos congelados uma vez por ano — prática que remete a um passado que já deveria estar extinto —, poder-se-ia criar um Programa Municipal de Segurança Alimentar. Com os milhões atualmente gastos na compra de toneladas de peixes de baixa qualidade, seria possível adquirir a produção dos pequenos agricultores de Ilhéus, montar cestas de alimentos diversificadas com produtos frescos e distribuí-las a famílias cadastradas, priorizando aquelas ainda não atendidas por programas existentes.

Essa não é uma ideia nova — tampouco exclusivamente minha. É uma solução já adotada em diversos municípios: fortalece a economia local, injeta recursos diretamente nas mãos de quem produz e garante comida de qualidade às mesas de quem precisa. Isso sim é política social de verdade — que gera ciclos virtuosos, não apenas aplausos efêmeros.

Populismo barato, em pleno século XXI, disfarçado de política social, não tem nada de renovador.

Gerson Marques

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