No início de todo governo, há escolhas que moldam o sucesso — ou o tropeço. Uma delas, embora silenciosa aos olhos do público, é de altíssima prioridade: a do procurador-geral do município. Escolher mal essa peça de primeiríssimo escalão é dar o primeiro passo rumo ao improviso institucional.
E, quando essa escolha dura apenas alguns meses, o alerta soa mais alto que o discurso.
Michel Mendonça, recém-nomeado procurador de Ilhéus, já não é mais. Pediu exoneração em vídeo ao lado do prefeito Valderico Júnior, afirmando motivos pessoais e elogiando a gestão. Saída elegante, mas não menos simbólica: a maré administrativa começou a balançar o castelo antes do tempo.
Se não aguenta, por que veio? — perguntaria o ilheense raiz.
A Procuradoria-Geral do Município (PGM) é o centro jurídico da gestão. É quem enfrenta o tsunami de dívidas herdadas, resolve bloqueios judiciais (mais de R$ 40 milhões, só em 2025!), regulamenta pendências sem contrato e se posiciona sobre temas quentes como o licenciamento ambiental na orla. Não é lugar para rotatividade. É trincheira, não vitrine.
Michel deixa o cargo com ares de civilidade — ao contrário do episódio de 2017, quando Fabiano Resende saiu da mesma cadeira, mas disparando críticas públicas. Agora, foi tudo mais leve, mais sorridente... mas igualmente simbólico.
Ilhéus precisa mais do que diplomacia: precisa de firmeza. De continuidade. De segurança jurídica. Porque, quando a marola bate forte, não basta ter castelo bonito — tem que ter alicerce.
E, no fim, fica a lição: a escolha do procurador deve estar no topo das prioridades. É ele quem diz ao governo o que pode, o que não pode — e, com coragem, o que não deve ser feito.
Sem isso, a gestão corre o risco de virar areia sob os pés.
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