Digo sempre — e não me refiro ao atual governo municipal, que está apenas começando — que todos os candidatos se elegem destacando o turismo como potencial e prioridade. Depois, colocam o turismo na “prateleira”, e o discurso passa a ser sobre os motivos pelos quais não conseguem executar o que prometeram: dificuldades financeiras, precatórios, dívidas que consomem as receitas, custeio da máquina pública etc. Essa tem sido a prática recorrente.
O último governo municipal teve sobrevida graças aos investimentos do governo estadual: Hospital da Costa do Cacau, Maternidade, Policlínica, saneamento da Zona Sul, nova ponte e duplicação do início da rodovia Ilhéus-Olivença, entre outros. Desses projetos, extraiu dividendos eleitorais. Contudo, ao final de sua gestão, o desgaste era evidente, e ficou claro que não conseguiria eleger o sucessor.
Por sua vez, o governo estadual também cometeu dois erros crassos ao deixar paralisadas duas obras de grande relevância, o que afetou negativamente a imagem e o funcionamento da cidade: a continuação da duplicação da Orla Sul (envolta em embates com os donos de cabanas) e o fechamento do canal de esgoto da Avenida Lindolfo Collor, nas imediações da Central de Abastecimento, no bairro do Malhado. Ambas impactaram não apenas os comerciantes da região, mas também a população e a mobilidade urbana como um todo, transformando o sul da cidade e o entorno da Central de Abastecimento em um verdadeiro caos, com grandes prejuízos e até falências comerciais.
Caso essas obras estivessem em andamento durante o período eleitoral, o resultado das urnas poderia ter sido outro, dada a pequena diferença entre o candidato eleito e a segunda colocada. Com uma migração de apenas 1.300 votos de um candidato para o outro, a vitória mudaria de mãos. A isso somaram-se outros erros menores e também acertos da coligação vencedora, que acabaram consolidando a pequena vantagem do prefeito eleito.
Portanto, existem fatores que impactarão decisivamente a decisão do eleitor ilheense nas próximas eleições. O andamento e a conclusão das obras citadas terão forte influência sobre o eleitorado, podendo ser até “fatais”. Além disso, o desempenho da atual administração municipal também será um fator de grande peso. Se, por exemplo, conseguir captar um grande investimento, somará pontos importantes. E, se esse investimento for na área do turismo, o impacto poderá ser ainda maior.
As promessas do possível candidato do União Brasil, ACM Neto, possuem dois gumes: por um lado, evidenciam deficiências estruturais de Ilhéus e se comprometem a saná-las, caso ele seja eleito; por outro lado, oferecem ao governo estadual a oportunidade de corrigir essas falhas a tempo das eleições, com ações concretas. Resta saber qual será a decisão do governador Jerônimo Rodrigues: deixará as obras abandonadas e deixará de apresentar soluções, como a demanda por uma nova Central de Abastecimento, limitando-se à duplicação da rodovia Ilhéus-Itabuna? Ou apostará no que já tem, com o que disputou as eleições municipais, e em um conteúdo apenas discursivo e político — no qual o turismo é peça-chave — para tentar convencer o eleitorado a apoiar seus candidatos e sua própria reeleição?
O provável candidato, ACM Neto, como oposição, só pode prometer e vender sonhos. Embora outros fatores — o imponderável, o inesperado — possam surgir, acredito que esses questionamentos são centrais para influenciar as decisões do eleitorado nas próximas eleições.
Assim como no restante do país, o eleitorado ilheense está dividido. O centro — menos radical, menos ideológico e mais apartidário — será decisivo para inclinar a balança. A depender de resultados concretos, como já opinei, é aí que a disputa será resolvida.
O setor turístico, até lá, chegará às suas próprias conclusões. A meu ver, o desenvolvimento do turismo não sensibiliza apenas o trade — os que têm nesse segmento sua atividade econômica —, mas também grande parte dos eleitores, que enxergam nessa área a forma mais rápida de retorno dos investimentos, por meio da geração de empregos e renda. Esses são os votos que serão influenciados pelo desempenho dos governos nesse setor. Basta observarmos há quantos anos esperamos pela FIOL e pelo Porto Sul para deduzirmos que haverá mais pragmatismo na decisão do eleitor ilheense.
Portanto, a influência do turismo nessa escolha terá um peso maior ou menor conforme dermos, de fato, importância às demandas do setor e fizermos repercutir possíveis conquistas na opinião pública. Quem resolver melhor essa equação e colocar o turismo como prioridade dará um passo decisivo rumo à vitória. Mas não se trata de vender sonhos — e sim de realizar ações concretas.
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