A construção de prédios próximos às praias tem gerado debates acalorados entre defensores do meio ambiente, urbanistas e profissionais de saúde. Enquanto ambientalistas apontam o impacto visual e ecológico causado por edificações que criam sombras na faixa de areia, profissionais de saúde frequentemente alertam para os perigos do sol intenso, como queimaduras, envelhecimento precoce e o risco de câncer de pele. Nesse cenário, surge a dúvida: a sombra na praia é realmente prejudicial, ou o discurso contrário está contaminado por uma perspectiva ideológica?
Do ponto de vista ambiental, as críticas à construção de prédios nas orlas não se limitam apenas à questão das sombras. Essas edificações muitas vezes desrespeitam o equilíbrio natural, interferem na ventilação costeira, causam urbanização desordenada e pressionam os ecossistemas locais, como dunas e restingas. Além disso, a sombra pode desagradar banhistas que buscam a luz solar, comprometendo a experiência tradicional de lazer à beira-mar.
Por outro lado, a saúde pública apresenta outro viés. A exposição prolongada ao sol, especialmente nos horários mais críticos (entre 11h e 16h), é uma das principais causas de doenças cutâneas graves. A presença de sombra, seja ela proporcionada por prédios, árvores ou guarda-sóis, pode ser vista como uma forma de proteção natural contra os raios ultravioleta, oferecendo conforto e segurança aos frequentadores.
A legislação urbana tenta equilibrar esses interesses. Em muitos municípios, exigem-se afastamentos laterais entre os prédios, como no caso de Ilhéus, permitindo uma alternância entre sol e sombra nas praias. Essa solução busca preservar a incidência de luz natural ao longo do dia, sem comprometer totalmente a paisagem e o conforto dos banhistas. No entanto, a aplicação dessas normas nem sempre é uniforme, o que alimenta críticas tanto de ambientalistas quanto de moradores e turistas.
A questão, portanto, transcende o binarismo entre ideologia ambientalista e os benefícios da sombra. Trata-se de encontrar um meio-termo que contemple o uso sustentável do espaço urbano, a saúde pública e a preservação ambiental. Nem toda sombra é maléfica, mas sua origem e impacto precisam ser analisados com responsabilidade. Ignorar a complexidade desse debate pode levar a soluções simplistas que não atendem às reais necessidades da sociedade e do meio ambiente.
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