Fui duramente criticado quando afirmava, de maneira incisiva e sem nenhum resquício de dúvida, que Sérgio Moro, então juiz da Lava Jato, estava cometendo arbitrariedades e aberrações jurídicas no julgamento de Luiz Inácio Lula da Silva, líder-mor do Partido dos Trabalhadores (PT).
E mais : que a escancarada parcialidade de Moro traria de volta a elegibilidade de Lula, o tornando forte na disputa pelo terceiro mandato. Deu no que deu : o governo Lula 3. O Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima da Justiça brasileira, anulou as condenações do petista com a declaração de suspeição do ex-juiz.
A imparcialidade, assentada na equidade e independência, seguindo o preceito constitucional de que "todos são iguais perante a lei", é o arcabouço da Justiça, a viga de sustentação do Poder Judiciário. Do contrário, o caos, o enterro do Estado Democrático de Direito.
O atabalhoado Sérgio Moro fez da Operação Lava Jato uma espécie de escada para sua estratégia de chegar à Presidência da República. Até que conseguiu subir alguns degraus sendo pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo Podemos do então senador Álvaro Dias.
O parlamentar, presidente nacional do Podemos, abriu às portas da legenda para o presidenciável Moro. O partido gastou milhões de reais para alavancar a campanha do ex-magistrado. Na calada da noite, Moro se filia ao União Brasil e toma a decisão de sair candidato ao Senado pelo Estado do Paraná, apunhalando pelas costas, sem dó e piedade, Álvaro Dias, que não se reelege senador. Moro é exemplo eloquente de puro cinismo.
Bolsonaristas e lulistas estão de mãos dadas quando o assunto é a cassação do mandato do atabalhoado senador, acusado de abuso de poder econômico em ação movida pelo PL, abrigo partidário do ex-presidente Bolsonaro, e pela federação PT/PCdoB/PV. Moro será julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Paraná, o TRE-PR.
Com efeito, o Ministério Público Eleitoral do Paraná já pediu a cassação e a inelegibilidade do ex-juiz. A contrapartida pela sua atuação na Lava Jato, transformando o antipetismo no maior "cabo eleitoral" do então candidato Bolsonaro, foi sua nomeação como ministro da Justiça com a promessa de ser indicado para o STF.
Os bolsonaristas ficavam tiriricas da vida quando eu dizia que Moro não valia aquilo que o gato esconde na areia. O tempo, além de inexorável, é o senhor da razão. Para aumentar ainda mais o antimorismo dos bolsonaristas, o ex-juiz, na sessão da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, deu um efusivo e caloroso abraço no "comunista" Flávio Dino, que vai ocupar uma vaga no STF.
Caso Moro seja cassado, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro irá disputar as eleições suplementares no Paraná para o Senado da República. Sua vitória é dada como favas contadas, fortalecendo assim o bolsonarismo. Michelle disse que teria sido chamada por Deus para "assumir algo novo".
Concluo dizendo três coisas : 1) o ex-juiz Sérgio Moro merece ser cassado. 2) Michelle Bolsonaro precisa deixar de usar o nome de Deus nas suas pregações no mundo da política. 3) que aceito as desculpas dos bolsonaristas, que hoje reconhecem que eu tinha razão em relação ao ex-juiz.
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