A novela Vale Tudo, sucesso atemporal da teledramaturgia brasileira, retratava um país dividido entre a ética e a esperteza, entre o mérito e o privilégio. Décadas depois, o roteiro parece ter saído da ficção e se instalado no cotidiano de uma nação onde a desigualdade ainda dita o tom, e a incoerência social tornou-se hábito de convivência.
Vivemos num Brasil onde o “pobre” se acha classe média, a classe média se imagina rica e o rico fantasia ser milionário. Um país movido por ilusões de status e por uma necessidade quase compulsiva de distinção.
A engrenagem da vaidade gira com tanta força que humilhar quem serve tornou-se, para muitos, um prazer travestido de superioridade.
Ironia das ironias: a mesma elite que critica o Bolsa Família e os programas sociais, hoje lamenta não encontrar mão de obra. Não percebe que o problema não está no benefício social, mas na falta de valorização de quem trabalha de quem sustenta, com suor e dignidade, as bases desse mesmo país.
Contratar com coerência é reconhecer o valor do outro. É compreender que respeito, empatia e gratidão não são atos de caridade são expressões de cidadania.
Enquanto o olhar continuar voltado apenas para o próprio espelho, permaneceremos aprisionados no ciclo da desigualdade. Seremos verdadeiramente mais felizes quando aprendermos a praticar a empatia, a arte de tratar o outro como igual, com justiça, respeito e humanidade.
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