Nos últimos dias, viralizaram nas redes sociais vídeos de empresários chineses desmontando uma das bases da sociedade ocidental capitalista: a indústria do luxo e dos supérfluos, cultivada aqui como símbolo de ostentação da riqueza.
Os chineses mostraram ao mundo que bolsas de grife com denominação de origem “in France” ou “in Italy”, vendidas a preços que ultrapassam dezenas de milhares de euros, são, na verdade, fabricadas por eles, na China, e entregues a marcas famosas como Louis Vuitton, Chanel, Prada, Gucci, Hermès, Dior, Saint Laurent, Balenciaga, Burberry, Fendi e Dolce & Gabbana, entre outras, por apenas trinta euros — quando muito.
Fiquei imaginando aquela pessoa (uma milionária desinformada) que comprou uma bolsa de vinte ou cinquenta mil euros, ao descobrir que sua colega (mais perspicaz) possui uma bolsa idêntica, fabricada do início ao fim na mesma fábrica chinesa, com uma única diferença: a dela traz a etiqueta “Made in China”.
O que justifica essa diferença? De onde vem a composição desses custos, que elevam um produto de trinta euros para cinquenta mil? Resumidamente, da ingenuidade humana, que se deixa convencer pelos dogmas do capitalismo. Na prática, os valores que compõem o preço final — além do custo comercial em escala, impostos, fretes, taxas alfandegárias e a margem de lucro da vitrine — dificilmente dobrariam o valor original. Portanto, a diferença é construída sobre valores subjetivos: o simbolismo em torno do produto, a imagem associada à marca, a experiência de consumo. Tudo isso, de fato, acrescenta valor — mas, reitero, são valores intangíveis, que não existem materialmente.
Esse fenômeno ocorre em diversas cadeias comerciais e está ligado à lógica do capitalismo neoliberal, em que exclusividade, exposição da riqueza, luxo, status de “camarote” e acesso restrito são incorporados ao preço. As pessoas, no fim, pagam por sua própria ignorância. Não adianta ser milionária e desconhecer a realidade ao seu redor. Com a ajuda do marketing, cria-se toda uma narrativa que vende a subjetividade do exclusivo, a ilusão de superioridade e a falsa sensação de pertencimento a um grupo seleto, distante daqueles que não podem pagar por uma bolsa de grife.
Os chineses compreenderam isso e souberam o momento certo de desafiar esse pilar do capitalismo, atribuindo a si mesmos o valor real do produto. Ao unir sua milenar qualidade artesanal às etiquetas europeias, demonstraram que não apenas produzem de forma equivalente, mas podem fazê-lo melhor. Assim, abre-se caminho para que as marcas chinesas se tornem, em breve, referência em qualidade e beleza, conquistando mercados luxuosos sem intermediários. Afinal, para o luxo e a exclusividade, o que importa é a origem autêntica e as qualidades intrínsecas do produto.
Veremos, em breve, o Made in China valer mais do que o in France ou in Italy — até porque, como vimos, estes últimos são, em grande parte, ficções. Produtos falsos, não verdadeiros.
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