Mas há sempre um preço a se pagar.
Em política, acordos são como pontes improvisadas sobre rios turbulentos: podem ser refeitos, ajustados, reforçados ou até desmanchados. Tudo depende do interesse, da conveniência e, principalmente, da natureza de quem está envolvido.
Essa dinâmica lembra muito a velha fábula do escorpião e o sapo. O escorpião, precisando atravessar o rio, pede ajuda ao sapo. Promete não picar, jura fidelidade momentânea e, com voz mansa, convence o sapo a deixá-lo subir em suas costas. No meio da travessia, o inevitável acontece — o escorpião ataca, condenando os dois à morte.
“Por que fez isso?”, pergunta o sapo, surpreso e ferido.
“Porque está na minha natureza”, responde o escorpião, antes de afundar.
A política, infelizmente, reproduz esse enredo com frequência. Muitos acordos são selados não pela confiança genuína, mas pela conveniência temporária. Um lado acredita na promessa, o outro age conforme sua essência. E quando o veneno da traição se manifesta, todos acabam se afogando — o traidor, o traído e, muitas vezes, o próprio projeto coletivo.
Alterar um acordo político, portanto, é possível, mas perigoso. Requer sabedoria para distinguir se o que está sendo mudado é apenas a estratégia — ou se, na verdade, se está permitindo que o escorpião suba de novo nas costas do sapo.
Porque, em política, a história mostra: a natureza de certos atores nunca muda — apenas muda o tom da promessa.
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