Mandato Bahia - Política Inteligente - Ilhéus

Quinta-feira, 24 de Abril de 2025
CÂMARA
CÂMARA

Política

ACM Neto em Ilhéus

Coluna Gerson Marques

Gerson Marques
Por Gerson Marques
ACM Neto em Ilhéus
Espaço para a comunicação de erros nesta postagem
Máximo 600 caracteres.

ACM Neto desembarca em Ilhéus para lançar sua pré-campanha ao governo da Bahia, em mais um capítulo de um roteiro previsível. A movimentação, no entanto, parece pouco crível: dificilmente Neto será candidato ao governo em 2026. O gesto integra uma estratégia eleitoral calculada, enquanto avalia alternativas — como a possibilidade de compor como vice em uma chapa presidencial de centro-direita. A recente articulação de Ronaldo Caiado em Salvador segue lógica semelhante: demarcar espaços para negociar com alguma carta de barganha. Para Neto, o plano mira uma eventual vice-presidência na chapa de Tarcísio de Freitas, cotado como herdeiro político de Jair Bolsonaro, hoje a caminho da prisão. Na prática, porém, o caminho mais seguro para o ex-prefeito de Salvador parece ser uma candidatura à Câmara dos Deputados, garantindo um mandato e proteções extras em meio às turbulências políticas e jurídicas que enfrenta.

Qualquer análise minimamente realista parte de dados concretos e fatos ocorridos para fazer uma leitura do futuro. Nesse sentido, os números das pesquisas e o cenário político-eleitoral sugerem que Jerônimo Rodrigues tem uma trajetória sólida rumo à reeleição. A percepção é tão clara que, nas últimas semanas, mais de uma dezena de prefeitos recém-eleitos por partidos aliados de Neto migraram para a base governista. O movimento reflete uma equação simples: a popularidade do atual governador, somada ao peso de Lula na chapa majoritária em 2026, cria um “efeito dominó” favorável. Em 2022, Jerônimo — então um desconhecido — quase venceu no primeiro turno, perdendo por meros dois mil votos. Agora, com reconhecimento ampliado e aprovação consolidada, a vitória inicial parece inevitável, potencializada pela possível formação de uma chapa ao Senado com Jaques Wagner e Rui Costa. A política, claro, não é matemática, mas o cenário atual não deixa margem para otimismo na oposição.

Os desafios de Neto, porém, vão além da disputa eleitoral. Seu maior obstáculo tem nome: José Marcos de Moura, o "Rei do Lixo", investigado por desvio de R$ 1,4 bilhão em esquemas ligados a emendas parlamentares via DENOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). Moura, amigo pessoal de Neto, mantém contratos de R$ 426 milhões com a prefeitura de Salvador. A Operação Overclean, da Polícia Federal, expôs ligações diretas dele com o esquema, ao ponto de três aliados de Neto estarem presos pela PF, incluindo o próprio Marcão "Rei do Lixo", o ex-prefeito de Santa Cruz de Cabrália, Carlos André Coelho, e Bruno Ottaviano Barral, ex-secretário de Educação de Salvador e posteriormente nomeado, por indicação de ACM Neto e Marco Moura, como secretário de Educação em Belo Horizonte.

Leia Também:

A teia se estende a Samuel Franco, conhecido como Samuca, empresário do ramo imobiliário e proprietário do Ilhéus Praia Hotel, que foi alvo recente da Polícia Federal em operação de busca e apreensão, por supostamente operar o fluxo financeiro do esquema. As investigações revelaram comunicação constante entre os envolvidos, com menções a repasses ilegais, além de nomes e valores a receber do grupo.

O paralelo com 2018 é inevitável. Naquela época, Neto também simulou uma candidatura ao governo, para depois desistir, lançando o então prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo, em seu lugar — que acabou abandonado em plena campanha. Agora, repete o script: encena ambição pelo Palácio de Ondina, enquanto prepara uma saída segura. A diferença é que, hoje, as investigações estão mais intensas — e um mandato não seria apenas uma trincheira política, mas também um escudo jurídico.

Enquanto Jerônimo consolida seu projeto com apoio federal e uma base ampliada, entregando obras tanto no interior quanto na capital, e construindo uma reeleição segura, mantendo a base unida e animada, Neto navega em águas turbulentas. Sua estratégia depende não apenas de cálculos eleitorais, mas da capacidade de se distanciar dos escândalos que corroem sua imagem. Nesse sentido, talvez só lhe reste uma eleição segura para deputado federal — ou, quem sabe, uma improvável vice em uma chapa com Tarcísio. Quase impossível, mas nada impede Neto de sonhar. Afinal, o Palácio de Ondina parece mais distante do que nunca.

 

Gerson Marques

Comentários:
Gerson Marques

Publicado por:

Gerson Marques

Saiba Mais
CÃMARA DE ILHÉUS
CÃMARA DE ILHÉUS

Crie sua conta e confira as vantagens do Portal

Você pode ler matérias exclusivas, anunciar classificados e muito mais!